Estou a sofrer do síndrome o rabo não me cabe nas calças.

Bem, ele até cabe, mas fica ali estrafegado género saco de cama enfiado a extremo custo dentro do seu saquinho protetor após 3 dias de festival de verão (por favor, não estejam já a visualizar o meu rabo em tamanho de autocarro. Aliás, de preferência não o visualizem de todo (tarefa difícil dado não ter ainda falado em mais nada para além da gigantez do meu rabo)). Mas, verdade verdadeira é que ele está efetivamente difícil de arrumar. Sinto-me solidária com o conjunto de mulheres que ouço, desde pequena, dizerem “tudo o que como a mais vai diretamente para o rabo” e ainda mais solidária com aquele outro conjunto que diz “eu cá engordo racionalmente: em todo o lado”.

Louvados sejam os modelos de calças relaxed que populam as lojas este ano. Para além de sentir que ando à solta (men, you are not alone), gosto de pensar que é um sinal de que os estilistas estão a sorrir levemente do alto dos seus estiradores, enquanto rabiscam corpos esbeltos em trajes coloridos com a mão direita e seguram um cigarro fumegante com a esquerda, pensando para si mesmos, sim Rita, é OK estar gorda, podes relaxar.

E depois querem que eu seja copo meio cheio

Vibrei de emoção quando me apercebi que o pianista do sítio onde estou a almoçar estava a tocar o Time After Time da Cindy Lauper. Um senhor crescido e tudo! A minha esperança de que a música dos 80s regresse para governar o mundo renasceu com força e cabelos volumosos à la Jon Bon Jovi.

No entanto, rapidamente um turbilhão de notas chorosas substituiu a sonoridade perfeita da Cindy assim que os Jardins Proibidos ecoaram no centro comercial. Continuei a ruminar a minha alface, duplamente infeliz por me ter apercebido que sabia a letra toda. 

Pensei que já tinha visto tudo, até me agarrarem no Saldanha, pedirem ajuda e não me dizerem obrigado.

Felizmente, só guardo rancor das coisas mais estúpidas.

EXT. SALDANHA - DIA

SENHORA de meia idade de ar atarantado, como quem se vê perdida no meio de uma rua apertada ladeada de arranha céus, agarra braço de JOVEM esbelta e de ar inteligente que passava por ela naquele instante. 

SENHORA
Pastelaria Versailles?

A JOVEM contempla o seu braço torneado pela manápula alheia e sacode-o com um gesto rápido, de narinas dilatadas, e fala sem sorrir.

JOVEM
Do outro lado da avenida. 

A SENHORA afasta-se sem mais dizer e volta a olhar para o topo dos prédios.


Aparentemente, não, não vi tudo. Não vi o Snatch até ao fim ainda. 

A Rita vai a S. José

Porque a minha manhã de terça-feira estava a ser demasiado monótona, decidi animá-la com um pequeno acidente pessoal e uma visita a S. José, com direito a mini-pânico e soporífero durante uma hora.

Tenho a dizer que foi uma experiência extremamente positiva, não só por ter tido a oportunidade única de me pavonear pelas urgências, enquanto envergava o pijama xxxL e chinelinhos de papel crepe oficiais do hospital, mas também por ter tido a sorte de ficar arrumada entre uma senhora de bigode e um senhor que tinha engolido várias centenas de objetos estranhos e sobretudo por, a partir de hoje, poder dizer que fui à plástica antes dos 30.

Rita 2.0

Tenho a comunicar ao mundo que, desde 25 de dezembro, pertenço a uma elite de qualidade e distinção supremas: a secção da raça humana que possui smartwatches.

Agora, sou algo extremamente próximo do tipo mau do Exterminador Implacável 2 (mas ainda só me liquidifico na zona das pernas depois de corridas muito longas): de cara feroz, sempre alerta e com o máximo de informação possível. 

Assim, alerto-vos para a eventualidade de em encontros futuros a minha atenção se dividir não igualmente entre 3 ecrãs: o do smartphone, o do smartwatch e a vossa cara. 

Minto, minto. Eu nem sou de estar à conversa com os olhos postos no telemóvel, mas seguramente tornar-me-hei num sucesso das noites de lisboa, quando chamar um uber estilo Kitt. 

Dia 1 de trabalho, 2016

Porque ter de ir trabalhar sob um sol inexistente e chuviscos constantes, depois de 11 dias de férias de glorioso fare niente não era suficientemente doloroso, deus decidiu que eu iria padecer do esquecimento agudo (que habitualmente me atinge sempre que volto de férias): deixar o portátil do trabalho em casa e aperceber-me de tal facto apenas nos segundos anteriores à entrada das carruagens do metro no cais.

Compreensivelmente, vociferei palavrões diversos, enquanto fazia o caminho de volta para casa e o caminho de volta para o metro de portátil a pesar-me no ombro e pele húmida sob os casacos e casacões que o presente tempo negro exige.

Bom ano? Ha!


Querido 2015

Chegaste como todos os outros anos de forma inevitável perante o meu nariz semi torcido de falta de interesse, mas rapidamente te revelaste um Sr. Ano cheio de aventuras e surpresas.

Fizeste-me correr 500km - a mim, eternal hater de todo o exercício físico superior a uma caminhada no centro comercial - e 21 deles foram de um só fôlego. Continuaste a ver-me capaz de fazer 10 flexões, ainda que as últimas 4 sejam em modo 'acabei de dar sangue e não comi as bolachas que a enfermeira deu'.

Levaste-me ao meu destino de sonho desde que me lembro de ser capaz de mudar o canal de tv sozinha e permitiste-me vislumbrar bem de perto (aquele eu acredito piamente que era) o Francis Ford Coppola.

Trouxeste mais um bebé ao mundo, contribuindo para a minha habituação educativa a pequenos seres incapazes de praticar atividades, mas mestres em absorver toda a atenção de uma sala.

Estiveste comigo na sempre aventura que é renovar o cartão do cidadão sem poder estar de óculos no momento em que tiro a foto, pestanejando cegamente para a mancha cinzenta que imagino ser a câmara, e viste-me sair de lá com o sorriso orgulhoso de quem acabou de tirar um retrato apenas medianamente presidiário.

E, naturalmente, lembraste-me de que por mais franjas que pense em fazer, nunca alguma chegará ao nível dos melhores cabeludos do mundo:



Estiveste muito bem, 2015 (9 em 10, se estivessemos no dear cinema).
2016, porta-te e tráz-me os meus 30 recheados e bem embrulhados que eu adoro abrir presentes. 

Natal? Not yet.

Acabei de viver um momento de histeria totalmente infundamentada, porque achei que tinha ganho um carro da fatura da sorte. Abri o email - eles nunca me tinham enviado um email! Por que outra razão me enviariam um mail se não para me dizer Querida Rita, como contribuinte fidelíssima e perfeita que és, presenteamos-te com o veículo X para que possas desperdiçar o teu tempo no trânsito das ruas de Lisboa, enquanto gritas obscenidades começadas por C a todos os que circulam a menos de 10m de ti - enquanto as veias das minhas têmporas latejavam ferozmente, mas era só blá blá... vamos fazer mais um sorteio e blá blá blá.

Alguém conhece alguém a quem tenha saído um carro?

Será isto o maior engodo da história (logo a seguir à conversa que o Clinton teve com o mundo em que jurou que não tinha tido nada com a Monica)?

Há 10 anos a encher papel cor-de-rosa

10 anos, god damn it! Aposto que nunca se imaginaram a viver este momento! (provavelmente porque já não lêem o blog há 7 anos)

Em toda a minha vida, poucas coisas me trouxeram maior satisfação que escrever nesta doce página cor-de-rosa. E o melhor de tudo é saber que tenho 10 anos de vida aqui registados...
  • 10 anos de aventuras (vá, acontecimentos): + +
  • 10 anos de dores intensas: + +
  • 10 anos de lutas contra deus: + +
  • 10 anos a viver tragédias gregas: + + +
  • 10 anos a tentar escrever poesia: + +
  • 10 anos a lançar teorias: + + + + 
e que sim, serei uma criança para todo o sempre.

Eeeeee que sim, prometo continuar a escrever apenas quando tiver algo para dizer e somente quando me apetecer (sim, estou a citar-me - i'm that cool).

Conto convosco para mais 10! (ou até me fartar).

Superiormente vossa e com amor moderado,
rita(h)

A segunda coisa mais irracional do mundo

Dar um panfleto a uma pessoa que está a correr na rua. Hmm, ela vai passar por mim aceleradamente com cara escarlate pulsante e roupa de ginástica... Tome lá um papelito que pode aborrecer-se no caminho e assim tem o que ler. 

Precedida apenas pela coisa mais irracional do mundo: aceitar um panfleto enquanto se está a correr. Isso é para mim? Mas eu estou a correr! Oh mas coitadinha ela parece mesmo estar a ajeitar-se para me dar aquilo no nanosegundo que eu vou demorar a passar por ela. Ah damnit, dá cá isso.

Como é óbvio não consegui sequer focar o olhar para ler as letras coloridas do papel, dada a torrente de chuva transpiral que corria pela minha cara, mas pelo menos tive a oportunidade de viver um momento Michael Jordan e atirar o papel amachucado certeiramente para um caixote do lixo. (Minto, não foi nada sexy. Tive de abrandar imenso, e levantar a tampa do caixote). 

Slide

Tenho uns sapatos novos de sola extremamente lisa. Sublinho e engordo o "extremamente", pois esta palavra no seu estado corriqueiro não serve para explicar sequer metade da maciez que está presente na sola destes sapatos.

Quando calço estes sapatos, deslizo na calçada pintalgada de folhas ensopadas e poças de água da chuva, como se em cima de skis estivesse e galgasse uma neve brilhante e fofinha, rodeada de seres portugueses que preenchem as montanhas de Espanha com as suas obsessões de vá lá, ainda conseguimos fazer mais uma antes das 5.

Patino como quando tinha 15 anos e, durante as férias de verão,  me arrastava nos ringues de gelo ingleses de mão colada ao corrimão e rabo molhado, percorrendo metros em velocidades ora quase nulas, ora involuntariamente alucinantes.

Acelero que nem uma criança com ténis daqueles que trazem rodinhas secretas a fazer círculos apertados em torno da mãe, que se desloca a 2km/hora de mãos agarradas a seis sacos do Continente.

Correção: Tinha, deslizava, patinava e acelerava. Porque deslizei, patinei e acelerei tanto que caí duas vezes em 300m. 3 minutos depois estava sentada descalça na cadeirinha do sapateiro, enquanto ele sonoramente eutanasiava as solas escorregadias e colocava umas ásperas e SEGURAS.

A aleatoriedade dos meus sonhos claramente justifica as minhas ocasionais atitudes de estúpida

Hoje de manhã sonhei que estava num restaurante quando, de súbito, reparei que na mesa ao lado estava sentado a jantar o Clint Eastwood. Fiquei histérica (sendo o meu histerismo algo previsivelmente comedido: os meus membros congelam e as minhas costas ficam subtilmente escorregadias, mas a minha cara permanece no seu estado sério-enjoado do costume). Pensei no que lhe poderia dizer. Não era pessoa para lançar um mortalmente aborrecido adoro os seus filmes!, por isso conformei-me com uma opção honesta e disse-lhe não fui ver o Million Dollar Baby ao cinema, mas mais tarde, com alguma relutância, vi-o em casa e chorei como uma madalena de 3 anos que acabou de deixar cair o gelado ao chão e de levar um pontapé na canela do irmão mais novo. Ele sorriu e deixou-me tirar uma foto com ele, em que eu sorria descontroladamente de testa e queixo luzidios.

Momentos depois estava a sonhar que tinha fungos em forma de pequenos morangos que me nasciam por todo o corpo. Assim que acordei, fui pesquisar "morangos fungos" no telemóvel (graças a deus só apareciam morangos com bolorzinho, tudo alheio ao corpo humano). Só me recordei desta parte hoje à tarde quando pesquisava qualquer outra coisa. Brrrggg.

Alguns feitos memoráveis que demonstram claramente que, apesar de perfeita, vivo o ocasional momento de burrice como todos vós

Aquela vez em que dei um beijinho à Murphy logo a seguir a ter-lhe posto a ampola para as pulgas e fiquei o resto do dia com os lábios dormentes ao estilo anestesia hardcore comum apenas nos recém des-sisados.

Aquela vez em que achei que era perfeitamente exequível beber um chocolate quente do Starbucks acabadinho de servir num carro em andamento sem me queimar ou sujar.

Aquela vez na 1ª classe (bibe castanho para os João de Deus connoisseurs) em que no espetáculo de natal no Teatro Maria Matos, estávamos organizados em 2 grandes filas indianas, eu levei a miúda que liderava a minha fila a acreditar que tínhamos de ir para a esquerda em vez de para a direita e a cortina do palco desceu, anunciando o fim da atuação, tendo a nossa fila ficado do lado da plateia e as gargalhadas enchido os nossos ouvidos, enquanto as nossas bochechas se enrubesciam.

Pronto, já não estão sozinhos na vossa imperfeição :*