Ontem tive uma epifania

Apercebi-me de que as jardineiras não são mais do que aventais com pernas. Ou invertendo para chegar ao provável racional, são umas calças a quem alguém se lembrou de juntar um babete para não sujar a camisa durante pinturas de tectos e paredes (ou, se forem como eu, durante o processo de transferir a sopa depois de feita para um tupperware - nada como juntar a um post inútil um momento gritante de orgulho sim, eu sou crescida e faço sopa*).

Esta descoberta é extremamente importante pois vem suportar a minha vontade de ver implementada uma lei que proíba o uso desta peça em ocasiões que não as acima descritas.

É isto que o povo quer, malta do governo. Leis ÚTEIS.


*As duas mentiras completas.

Imaginem então quando tiver filhos. Bam dum tss.

Queria só dizer ao mundo que hoje, depois de 29 anos e qualquer coisa de imaculada existência, senti-me finalmente "exausta". Não estou cansada, nem fatigada. Também não é mariquice. Exaustão é verdadeiramente o único vocábulo que traduz a sensação física que neste preciso momento ocupa todo o volume do meu metro e 57.

Fun fact: ontem dormi 10 horas e hoje nem sequer usei o cérebro no trabalho.

Vou lançar a teoria

Em momentos de aborrecimento profundo em que o coração abranda de tal forma que pensamos que nos tornámos no Ronaldo e estamos placidamente a correr num relvado ou em que o cérebro está de tal forma inutilizado que demoramos 3 leituras a perceber que escrevemos produnfo em vez de profundo, recomendo vivamente a audição de qualquer greatest hit do Meat Loaf (daqueles que duram pelo menos 9m) no volume máximo.

É como voar agarrado destemidamente ao pescoço do Falkor sobre montanhas assustadoras com o cabelo em ebulição e as bochechas disformemente empurradas para trás por causa do vento excessivo.

Claramente, a banda sonora que deus tinha a tocar durante aqueles seis dias.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu

Cheguei à capela por volta da 1 da tarde. Era domingo, 10 de agosto. Suspirei e deixei cair os ombros, pensando em como nada havia que pudesse evitar aquele momento, aquela minha presença ali.
Chamar-lhe capela é uma hipérbole. Eram pouco mais de 20m2 com umas quinze cadeiras dispostas em plateia com vista para o caixão e um sofá, dispostos paralelamente. Não me lembro de cristos ou cruzes. Apenas de que o caixão era claramente a estrela do acontecimento e de que estava aberto.

Sabia que a minha avó acabara de entrar com a minha irmã mais velha, pois vira-as à entrada da capela, enquanto chegava de carro. O facto de a minha irmã já ali estar aqueceu-me o peito. A ideia de ter que estar com a minha avó (viva) e o meu avô (morto) na mesma divisão sem qualquer rede de segurança (mãe, irmãs…) fazia-me sentir como se tivessem colocado o meu estômago a secar num programa de centrifugação máxima. Nunca sei o que dizer em qualquer momento que apresente profundidade emocional superior a zero.

Quando entrei, cumprimentei a minha avó que, apesar de segundos antes estar com um ar apenas semi choroso, rapidamente me abraçou e transitou para um choro contínuo e um chorrilho de palavras de lamento. Afastei-me alguns segundos depois, respirei o ar leve que parecia circular acima das pessoas sentadas nas cadeiras e pousei a minha mala no sofá. Assimilei rapidamente a realidade de que o sofá era para a família e as cadeiras para os restantes.
Para além da minha avó e da minha irmã, a sala estava já preenchida com vários pontos escuros: senhoras velhas de roupa preta e cabelo cinzento, cuja caras me eram remotamente familiares, mas não o suficiente para que as conseguisse ir cumprimentar pro-ativamente.

Lembro-me de olhar para aquela disposição de cadeiras e pessoas e pensar que parecia que estavam todas à espera que subisse o pano e começasse a peça.

O meu avô estava deitado sobre algo que inocentemente identifiquei como um estrado dourado decorado de folhos brancos,  (houve alguém que mais tarde me explicou que se tratava apenas do caixão aberto). A cara estava tapada por um naperonzinho branco rendado, facto que me fez novamente suspirar, desta vez aliviando ligeiramente o nó do meu estômago.
Era estranho vê-lo ali deitado quieto, em pausa permanente. Como quando se está a ver um filme e se carrega no pause para ir buscar algo doce à cozinha, congelando as caras dos atores em palavras cortadas, bocas abertas e pestanejares incompletos. Ainda agora quando penso nele, não consigo materializar a ideia de que ele já não existe, de que ele já não pensa, nem sente. Parece-me que só consigo pensar do meu ponto de vista e imaginar que ele foi para algum lado onde simplesmente não o consigo visitar.
Hoje, um ano depois, cada vez que vou visitar a minha avó, fico à espera de o ver. Acho que esta estranheza nunca vai desaparecer. Fica simplesmente disfarçada sob as coisas mundanas do dia a dia em 99% do tempo.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu. 26 de julho. Naquele dia, ele costumava dizer com uma alegria desmedida a quem quisesse ouvir que eu nunca me esqueceria dele e que mais tarde, quando ele já cá não estivesse, diria o meu avô fazia anos no mesmo dia que eu.

Só no primeiro jantar de família em casa da minha avó, a seguir ao 10 de agosto, quando as minhas irmãs e mãe, depois de algum embaraço, disseram para me sentar no lugar do meu avô, é que me apercebi que provavelmente de todas nós eu era a mais parecida com ele. Leões, orgulhosos, reservados e sempre convencidos de que a nossa opinião era a que mais contava, falávamos apenas quando tínhamos algo relevante para dizer. 28 anos demorei eu a ver isto.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu.

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O 1000º post do dc é dedicado ao meu avô António, faria hoje 91 anos e 15 dias.

Sabes que tens 29 anos quando...

...inocentemente pegas num vestido comprido, descobres que na parte da frente o vestido só chega até ao umbigo, a tua reação é esbugalhar os olhos para a pessoa que foi contigo às compras (e que também nasceu em '86), riem histericamente durante 5min, tiram uma foto ao vestido porque é simplesmente o momento mais emocionante dos últimos meses e aceitas que tens de deixar de entrar (de vez!) na Pull&Bear.

Provavelmente, na próxima semana, apanham-me de pinça e espelho de aumento em riste em plena Fontes Pereira de Melo

Desabafo aqui (em segredo) sobre uma minha atitude sobejamente degradante que esteve quase ao nível de uma sucção sonora dos dentes da frente feita habitualmente por aquele tipo de senhora que enverga uma sombra suspeita sobre o lábio superior e que parece pronta para a qualquer momento nos gritar ao ouvido e viva Alfama!

Não foi uma atitude assim tão alimentícia, é certo, mas teve o seu quê de ick: pintei uma unha no metro.

Pesei durante umas boas três estações se seria melhor aparecer no emprego com uma unha apenas 2/3 coberta ou se seria mais fácil absorver os olhares reprovadores dos circulantes da linha vermelha, enquanto passava tremidamente o pincelinho rosa pindérico sobre a minha unha incompleta. Engoli em seco e pensei, que se lixe, no mínimo (como dizia o pai do Calvin) forma o carácter.

Abdiquei, provavelmente, da companhia de alguns transeuntes em futuras viagens de metro, mas naquele dia teclei com orgulho e de unhas homogéneas.