Ser solteira aos trinta e três (seis)

Escrevi isto a 1 de agosto de 2019 e nunca o publiquei, sabe a Cher porquê, mas, aos 36,67 anos subscrevo tudo e publico-o com auto-comiseração tranquilidade e ligeiros ajustes assinalados a itálico.

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É poder sair de casa às 22h30 para ir passear junto ao rio sem que ninguém nos dê sentenças.

É prazenteirosamente viver numa relação a quatro: Netflix, sofá, torradas e eu.

É esgotar a televisão a ponto de poder rever Gossip Girl (só porque vi uma foto online do nerd principal e me lembrei que ele era giro).

É ter as noites sempre livres e poder dizer que sim a todos os convites [gri gri gri].

É poder fazer piadas que me fazem rir incrivelmente: tenho de ir para casa, estou à minha espera.

É ir almoçar com amigos e ouvir risos e guinchos, ver abraços e cavalitas de seres produtores de bolhas de ranho que têm sempre apelidos diferentes dos meus.

É escrever posts num blog à uma da manhã sentada na cama, com Spotify a fazer vibrar as colunas do computador, sem que ninguém diga vem lá p’ra cama.

É viver de copo meio vazio e aprender a inclinar a cabeça num ângulo ortodoxo que faz doer um pedacinho o pescoço, mas que permite ver que afinal ele está quase cheio.

Poder satânico, pelo menos

Quase nunca na minha vida acredito em deus. Vivo com as certezas simultâneas e contrastantes de que quando morrer vou estar de novo com os meus cães e vou ser só um saco de pó cinzento (ou talvez um esqueleto delgado num jazigo altivo em pedra bonita, só semi-escurecida ainda - se é para ir, vamos com pompa - ainda não decidi).

Mas, em certos outros dias, creio fervorosamente e sem dúvidas em deus e faço-o porque recebo sinais: as borbulhas que nascem dentro das orelhas.

Acredito que são fruto de um poder que tudo observa e nos chama à razão através desta dor aguda e incisiva, que só dói quando lá se toca, que nem um lembrete dos traumas passados que evitamos resolver.

Portanto, agora estais por dentro do segredo.

Peace.