A criancice é algo que brota em mim, como a previsibilidade brota dos livros de Nicholas Sparks

Hoje, sinto uma invulgar excitação envolta numa camada grossa de infantilidade graças a dois grandes motivos, que geram, cada um, sentimentos perfeitamente opostos:

- estou a mexer num documento que diz na capa documento confidencial e sinto-me importante, sinto-me grande e poderosa do alto do meu metro e 58;

- logo à tarde, vou ao ginásio medir a minha massa gorda e sinto-me minúscula, ridícula e temerosamente obesa na varanda dos meus fantásticos yeah-right!-como-se-eu-fosse-dizer-quilos.

Etiqueta no Trabalho - Vol 2

por Rita Bobone

Uma vez abordados os tópicos de interacção social e profissional no local de trabalho, passemos às instruções sobre o comportamento individual relacional, sonoro e olfactivo no posto de trabalho.


À hora de almoço:

DEVE: deslocar-se com o seu recipiente para a copa/cantina e almoçar em silêncio e de boca fechada, optando por não partilhar ou descrever o conteúdo da sua refeição, respectivas condições e proveniências.
NÃO DEVE NUNCA: almoçar no seu posto de trabalho (salvo ingestão de pequenos snacks sem odores ou emissões sonoras na degustação), sob pena de propagar fortes aromas que empestarão a sala durante horas e alienarão, certamente, os seus colegas que, agoniados, não serão capazes de se concentrar no seu trabalho e trocarão, muito provavelmente, mensagens e emails sobre o quão mau é o cheiro no ar e o quão feia foi a sua atitude.


Ao pressentir a aproximação de um episódio físico:

DEVE: deslocar-se até ao wc, entrar no cubículo mais afastado e abafar as suas emissões com uma folhita de papel higiénico.
NÃO DEVE NUNCA: tossir/fungar/grunhir agressivamente 30 vezes por hora, no seu posto de trabalho, quase levando os seus colegas à loucura, fazendo-os pensar desgostosamente que aquela constipação que você apanhou em Junho não passará nunca, nunca, nunca...


Ao sentir uma vontade emergente de questionar o colega que passa ou que está ao lado:

DEVE: mind your own business, qual avestruz com a cabeça na areia, e aceitar que nem todos os colegas são pessoas conversadoras e que falar é facultativo e não obrigatório.
NÃO DEVE NUNCA: sondar os pcs alheios, nem perguntar constantemente o que é que estás a fazer? onde é que vais? o que é isso? já te vais embora? isto que está na impressora é teu?

Querido mundo, tende pena de mim.

Durante todo o dia, dei formação a macacos.
Ensinei o que sabia e o que nao sabia.
Estou cansada.

Estive de pé 7 horas em cima de sabrinas assassinas que, a cada passo, escamam mais um bocadinho de calcanhares.
As minhas eyeballs estão a gritar em voz à la ratos do filme Um Porquinho chamado Babe, dizendo let us jump! let us jump!!
Estou em sofrimento.

A minha cabeça está autonomamente a tentar descair para o lado esquerdo.
Estou-me a rir exageradamente de coisas normais.
Estou descontrolada.

Posso não ir ao ginásio? POSSO??????

The horror, the horror!

Este post tem banda sonora.



Há uns dias, estava eu a entrar num restaurante com a cara metade do dear chiclete. A senhora waitress aproximou-se e nós dissemos: boa noite, era para jantar. Ela, olhando para uma criança do sexo feminino e 80cm que, naquele instante, passava ali ao lado, disse: a menina também está convosco?

Ainda estou a recuperar do choque.

Trabalhar

No decorrer destes meses, sofri. Sofri muito. Terrivelmente. Creio que por breves instantes, durante diversos dias, cheguei mesmo a morrer de tédio. O meu coração parou de bater e nenhum sangue chegava ao cérebro. Felizmente, havia o farmville.

Estava aqui entretido a acertar o dia da semana no relógio...

Estou aqui a colorir um post-it com lápis...

Apetece-me bater com a cabeça no teclado.

Estas foram algumas das frases que registei e que saíram da boca de recém-trabalhadores. Se isto não é suficiente para convencer os soon-to-be-trabalhadores que DEVEM EVITAR TRABALHAR A TODO O CUSTO e procurar asap marido/mulher ricos, espero que pisem a pile of poop no caminho para casa.

É tudo.