Perseguição

Estou a ser perseguida por carros funerários. Só hoje, nos breves momentos em que saí à rua para ser devorada pelo calor matador, vi três. Um deles parou mesmo à minha frente, bloqueando-me o caminho, enquanto exibia o seu lustroso caixão e me lançava olhares do tipo hop on, rita, hop on!

24

O dia começa. Ando 600m até ao metro sob um sol abrasador. Pequenas gotículas formam-se na minha testa, os pés escorregam nos sapatos, a mala pesa-me no ombro. Desço as escadas do metro, levo a mão à mala e apercebo-me de que não trouxe carteira, logo não possuo bilhete de metro nem dinheiro comigo.

Deus volta-se para mim e, em voz à la exterminador implacável, diz happy birthday, bitch!

Rita, mariquinhas pé de salsa

As chunguitas do metro são um espécimen humano que me assusta verdadeiramente. Sim, digo-o sem medo. Assustam-me. Arrepio-me e tremo ligeiramente, quando elas passam por mim. Respiro mais depressa, quando elas se sentam ao meu lado no metro. Chunguitas do metro out there, feel your power.
Com os seus cabelos empestados de gel, puxados para trás com uma força equivalente a 9G e presos num totó semelhante a uma meia de desporto, de orelhas multiperfuradas, falam com voz elevada, enquanto reviram os olhos e rebentam agressivamente balões de pastilha elástica.

Eu guardo o telemóvel na mala, coloco as mãos juntas entre as pernas e baixo a cabeça, sem as olhar. Sempre sem as olhar.

Dentista, round 2

Hoje, voltei ao dentista. Voltei e deparei-me com a higienista Nazaré. Ela apresentou-se realmente assim. Olá, sou a higienista Nazaré. Muito prazer. Eu, como ser inatamente pouco faladora e eterna repetente da cadeira Introdução à Conversa de Café, balbuciei um Olá (embora, na minha cabeça, pulsasse um desejo ardente de dizer num tom histérico, Olá, eu sou a economista Rita).
Ora, se a minha desconfiança acerca das competências da senhora se desfez quase totalmente no momento em que ela disse que se chamava Nazaré e enunciou a palavra prazer (não tendo ainda passado 30 segundos sequer desde a nossa apresentação), escusado será dizer que, quando a jovem higienista me questionou - a mim, ser com 24 anos, profissional das cirurgias dentárias horripilantes e traumatizantes - acerca do número de vezes que eu lavava os dentes por dia, o meu cérebro rapidamente congelou, tendo enviado uma ordem de fabrico da cara mais hedionda e do olhar mais gélido possíveis.

O resto da consulta decorreu em silêncio.

Confissão - vol 1

Tenho pânico de ir à casa de banho em aviões. As sanitas pretas e de águas escuras e profundas assustam-me e acredito verdadeiramente que, se pressionar o botão do autoclismo e se iniciar aquele barulho ensurdecedor, vou ser sugada e expelida para o exterior.

Em honra de Fábio

Frequentadores assíduos da casa ou privilegiados amigos e conhecidos da suprema potência conhecida como Rita Ralha conhecerão certamente o seu mítico desamor pelas lamechices e romanticices diversas. Rita sempre desprezou publicamente (com ou sem sentimento, a dúvida para sempre permanecerá) qualquer frase mais emocional, piegas ou pindericamente chorosa.
O assunto surgiu, numa tarde, na cabeça de Rita, a propósito da sua mais recente visita ao dentista, provocando-lhe um forte sentimento de confusão e merecida interrogação acerca dos seus supostos alicerces de mulher forte anti-tudo-o-que-se-apresenta-remotamente-lamechas. O profissional era de meia idade, conhecido há uma quinzena de anos, de cabelo branco e porte pesado. O motivo para tamanho revolto de emoções na cabeça de Rita: o dentista tratava-la por amor querido e ela não se importava.
Rita questionou-se se tudo o que sempre tomara como certo estaria realmente correcto. Sem resposta, encolheu os ombros e, embalada pelo poder sedutor da lamechice vivida durante a tarde, olhando para M.Dog, confessou-lhe que a venerava e fez juras de amor eterno. M.Dog bocejou e virou a cabeça para o lado.

Deus = Mr. Shuh ?

A igreja católica deve estar a tentar compensar o seu decréscimo de fãs, porque fui a uma missa e descobri que estava num episódio de Glee. Ora estavam muito bem a falar, ora estavam cantar. Com coreografias e tudo.

P.S.: será que enviar sms durante a missa dá direito a viagem straight to hell?