32 anos

Alerta: segue-se potencialmente o momento mais aberto de toda a história deste blog - suspense e emoção ao nível da revelação da identidade do assassino da Próxima Vítima (sim, tenho mesmo 32 anos) - não quero desiludir ninguém, mas ao mesmo tempo don't really care if i do, portanto deixo ao vosso critério decidirem se avançam.

Há uns quantos dias, passei a ser uma pessoa com 32 anos. Mais de três décadas, notem bem, seres humanos. Já posso dizer frases do género " há quase 20 anos estava eu na praia a ler o 4º Harry Potter". Felizmente, por obra e graça de algum anjinho padroeiro das caras de bebé, ainda tenho a oportunidade de viver a dicotomia de ora ser tratada por senhora, ora ser interrogada acerca do curso que frequento (score!).

Neste contexto, um facto importante a saber sobre mim é a minha quase-constante incapacidade de imaginação do meu futuro. (Não sei se é assim com a maioria das pessoas, mas) Nunca passei muito tempo a pensar como seria a vida da Rita do futuro. O máximo que fiz, creio, foi visualizar fazer 26 anos (data em que casava os anos) e fazer 32 anos (ano em que a minha irmã mais velha fazia - e fez - 40). Portanto, verdade seja dita, pensei em fazer 32 algumas vezes durante os passados 32 anos. Mas claramente não pensei com muita profundidade (provavelmente, esbugalhei os olhos e balbuciei uma qualquer palavra começada por F, voltando meros segundos depois a focar a minha atenção num qualquer rerun de Simpsons, enquanto ruminava uma bolacha Oreo).

Posto isto, esclareço desde já que NÃO (capitalizo, ou não fosse a Clareza a base do Ritianismo) estou em modo trauma por ser oficialmente uma pessoa medianamente-idosa (juro que tenho cada vez mais dificuldade em me lembrar de certas ... ?). No entanto, não posso deixar de assumir (acho que por esta altura, se estão a dedicar tempo a ler isto em vez de estarem a movimentar em gestos repetidos de baixo para cima o vosso dedo sobre um roll interminável de fotos de babes demasiado morenas com caras de êxtase Balinense, já devem saber que eu sou a maior apologista de por as superficialidades de lado e apenas perder tempo a escrever coisas que (tentativamente) acrescentem alguma coisa ao mundo ou pelo menos a mim) que os meus 31 foram um ano intenso de mudança, compreensão e aprendizagem (O DRAMA, A TRAGÉDIA, O HORROR! - e o prémio da hiperbolização vai para...).

Aos 31 deixei de namorar com a pessoa que mais significado trouxe à minha vida e a dureza de tal realidade seria absolutamente suficiente para me transformar em pessoa adulta (conceito que REJEITAREI PARA TODA A ETERNIDADE, 18 till i die, já dizia o mítico Bryan), não o tivessem já feito os ocasionais cabelos de cor oposta ao preto que se projectam na minha cabeça (os motherfuckers não se limitam a nascer, projetam-se efetivamente) ou as ligeirissíssissimas e finíssimas rugas que em certos espelhos se exibem sob as minhas pestanas inferiores.

Aos 31 (muito como consequência do episódio anterior) vi algumas amizades transformarem-se em virtude da vivência real daquele cliché de que os amigos verdadeiros se descobrem quando estamos no nosso pior. Algumas esmoreceram, outras intensificaram-se, relembrando-me que o amor pode vir de muitas origens e que todas as suas diferentes formas têm um lugar onde encaixar (no CORAÇÃO, SIM, NO CORAÇÃO - eu avisei que ia ser momento cliché). 

Aos 31 tornei-me oficial e não oficialmente tia, cimentando a minha ligação ao fenómeno bebé. Obviamente que com 31 anos já havia uma porrada (lamento, mas sim, esta é a única palavra adequada) de bebés no meu círculo, mas foi neste período que entrou na minha vida um pequeno ser loiro e gordo de seu nome José, que me veio mostrar que nem todos os bebés são Chuckies.

Aos 31 vi-me confrontada com todo um dia a dia (um coração e uma vida) por preencher. Chorei rios de lágrimas, criei a regra de dizer sim a todos os convites (éticos e decentes, claro), visitei bebés (e pais e mães de bebés) vezes e vezes sem conta, corri centenas de quilómetros em zonas novas da cidade e aderi a tudo o que era desporto não irritante e impossivelmente atrativo para a Rita do passado (sapateei de meia branca, pus-me em pé numa prancha de surf, subi escadas com pessoas às costas), fui de férias sozinha, fiz programas com casais amigos que me acolheram de braços abertos tal qual celebridades norte-americanas a receber com amor crianças de países sub-desenvolvidos, vi dezenas de episódios de séries (a Netflix já está claramente a perder dinheiro comigo) e filmes (saí pela primeira vez na vida da sala de cinema antes de um filme terminar - agora sim, O HORROR!) e ouvi horas e horas de músicas novas (vive em mim o eterno sonho de que novas bandas sonoras poderão trazer novas vidas).

Agarrei tudo o que era distração... na esperança de não pensar tanto no que deixei de ter e no que ainda não tenho. Talvez não se tenham revelado verdadeiras distrações na literal acepção da palavra, mas é certo que foram elementos decisivos para me manter sã e capaz de olhar para os próximos 32 anos com esperança. 

Se calhar não o deixo transparecer tanto quanto devia ou gostaria, mas sou viciadíssima em esperança. Acho que nem saberia o que fazer sem a mão cheia de sonhos que me preenchem a todo o momento. Em que pensaria? O que desejaria? Que caminho seguiria? Quero muito acreditar em vidas e finais felizes. Ainda espero tanto de tantas coisas e de tantas pessoas (há claramente casos perdidos, mas não está em mim desistir (também sou ligeiramente teimosa, mas acho que isso já transparece demais)).

Por isso, 32, estou pronta e bem cheia de esperança. Bring it ON!

Rita (aos 32 anos e 13 dias)