E eis que me tornei numa destas pessoas
Como boa idosa que agora sou, compete-me partilhar que deixei uma das janelas de trás do carro completamente aberta, durante toda a manhã, enquanto trabalhava.
Como boa idosa que agora sou, compete-me partilhar que deixei uma das janelas de trás do carro completamente aberta, durante toda a manhã, enquanto trabalhava.
Estava eu sentadinha e quieta no meu assento 29A (for real), enquanto a turbulência me levava sobre o Atlântico, quando dei por mim com trinta anos.
Sinto-me igual, mas infinitamente mais esperta. E modesta.
Bring it on, mofos \m/
Dou por mim a carregar duas vezes na tecla do espaço no portátil para inserir um ponto final.
Apresento-vos os Horrendos. Os irmãos bastardos dos Minutos, sem jeito para os estudos, que passavam a vida a ligar aos bons alunos para tirar dúvidas em vésperas de teste. Os Horrendos representam a unidade temporal de espera do sistema circulatório de autocarros da cidade de Lisboa e são exibidos publicamente em painéis eletrónicos amarelos colocados a 2 metros do chão com ar moderno e útil.
Os Horrendos não obedecem a uma escala linear. Um horrendo pode equivaler a qualquer valor entre 1 e 5 minutos, tendo já sido identificados alguns padrões comportamentais que nos ajudam a compreender melhor a sua variação:
1) Padrão carro velho, i.e. só andam quando lhes apetece. Pode estar um sol radioso e um número mínimo de carros a circular nas principais ruas da cidade e ainda assim os Horrendos mantêm-se fixos sem qualquer razão aparente. Caso prático: visionamos um maravilhoso "3" no painel amarelo e sorrimos para ninguém com um orgulho parvo na cara, oh yeah cheguei mesmo a tempo!, enquanto nos questionamos porque raio não estão os restantes seres humanos da paragem a sorrir da mesma forma, apenas para rapidamente nos apercebermos de que o 3 não evolui há 4 minutos. Os cantos da boca descaem lentamente e a sensação porquê? porquê?! instala-se, acompanhada de um desejo intenso de consumir anti-depressivos.
2) Padrão Keynesiano. Os Horrendos são defensores acérrimos do aumento dos gastos públicos como estímulo à economia nacional e criação de emprego e para que todos partilhem desta visão, estendem os seus valores para níveis exorbitantes. Caso prático: com o arranque das obras para viver melhor Lisboa!, para que todos observem com atenção e minúcia o investimento público - os polícias sinaleiros que gesticulam perante os olhares esbugalhados dos condutores que se indagam para que servem então os semáforos, as empresas nacionais de construção civil que garantem estradas lisinhas e sem declives e os senhores que em gabinetes desenham avenidas cheias de árvores e espaço livre para peões - os Horrendos escalam para níveis gigantescos, atingindo números como 38 ou 43, que quando visionados com elevadas expectativas, têm a capacidade de fazer abrandar de forma preocupante os corações dos mais ansiosos.
3) Padrão House, i.e. everybody lies. Os Horrendos mentem. Com frequência agem como filhos da mãe e mostram-se em trajes pequenos e quase inexistentes, evaporando-se meros momentos depois sem mais nem porquê, sem que qualquer autocarro se apresente à nossa frente. Caso prático: Depois de uma consulta rápida no smartphone dos Horrendos que faltam para chegar o nosso autocarro, seguida de uma corrida em modo é o último km da prova, 'bora acelerar que nem loucos para a malta da meta achar que fizemos o percurso inteiro a galope, chega-se à paragem e o painel amarelo exibe o nome do destino final sem apresentar qualquer horrendo à frente - é o sonho! chegámos na hora H! está ali ao virar da esquina! vai aparecer a qualquer momento! Só que não. O nome do destino eclipsa-se do painel e o coração aperta-se em lamento antecipado dos 15m de série que não vamos poder ver no sofá.
Agora que sabem toda a verdade por detrás do pesadelo que é esperar pelo autocarro, sejam espertos, andem de metro.
Há piadas que se idealizam fazer, mas cujo timing parece nunca surgir. Graças com potencial de curar leves doenças crónicas, tal a sua capacidade de gerar gargalhadas e admiração.
Ontem, tive a majestosa oportunidade de fazer uma piada destas.
O meu chefe perguntou: de que equipa é a Miranda?
Eu, sentindo de imediato o coração a pulsar na garganta, arregalei os olhos e, controlando o riso a custo extremo (eu sou sempre aquela pessoa que nunca aguenta as partidas e piadas sem se desmanchar a rir antes da punchline), disse com possivelmente um dos maiores níveis de orgulho da minha vida: é da equipa da Carrie!
E pronto, isto sou eu no mais puro estado.
Acabei de ver um pombo a debicar uma carcaça e outro uma barrita kellogs special k.
Alguém não recebeu o memo sobre carbs...
Nunca mais uso canetas.
Também tenho uma caixa nova de carimbos.
Tenho as undercheeks a transpirar só porque estou de calças vestidas.
Felizmente, amanhã já volta a estar mau tempo, não fosse alguém ousar tirar partido deste calor e emanar felicidade e alegria.
Fui trabalhar ao Porto durante um dia e o highlight não foi ter andado de metro, nem ter aprendido que pastéis de bacalhau são bolinhos de bacalhau, mas sim o facto de a senhora do restaurante onde fui almoçar me ter dito aos quatro segundos de jogo, enquanto movimentava mesas e cadeiras: Olha o cu menina.
Nunca um ba dum tss fez tanta falta.
Haverá algo pior que sair de uma entrevista e reparar instantes depois que tinha uma nódoa na camisa? Beeeem visível. Assim daquelas que grita "comi à pressa para vir para aqui a horas e agora só estou a conseguir provar que na realidade sou um porco".
Outras vezes penso que sou deus. Enfim, todos temos as nossas inseguranças.
De phones nos ouvidos, sinto a cabeça a vibrar ao ritmo tranquilo de Playgroung Love e absorvo o aroma de um triângulozinho de Toblerone que alguém me ofereceu e que eu educadamente reservei para mais tarde apreciar. Que doce a minha vida, penso de cara sorridente, enquanto olho pela janela.
Rapidamente a paz é interrompida por um ser volumoso que passa por detrás da minha cadeira, pontapeando-a graciosamente. Volto a baixar a cabeça para o ppt dantesco de tons cinzentos e letras mínimas que chama por mim - todos os dias.
Sexta-feira. Por algum milagre antes da meia-noite estava pronta para ir para a cama (eu sei, eu sei...). Penso, com o peito cheio de orgulho e esperança, amanhã não tenho nada para fazer de manhã! Posso acordar absolutamente às horas que quiser. Tardíssimo!
Sábado, 08h30, o Sol, as galinhas e eu pestanejamos os nossos olhos vivaços há mais de meia hora, conferenciando uns com os outros, será que se aguentarmos na cama até às 9h já conta como tarde?!
Hoje de manhã, enquanto abotoava a camisa branca do dia de olhos postos na massa cinzenta que ocupava o céu, gritei para a Siri e perguntei-lhe se precisava de levar chapéu de chuva. Ela disse que era melhor.
Isto, aliado ao facto de ela me chamar Rita Master of the Universe, é coisa para alegrar o meu dia independentemente de quantidade de chuvas de granizo que me caiam em cima só porque sou demasiado orgulhosa para andar de chapéu de chuva (estou a desejar ardentemente que este orgulho otário se dissipe aos 30, pois passo a vida de cabelo encaracolado e não são lindas beach waves).
Aprendi recentemente que andei 29 anos a descolar post-its de forma errada (tantas imperfeições que poderia ter evitado quando aos 10 meses colava post-its nos biberons para distinguir o da manhã do da tarde...).
Arranca-se o post-it do bloco puxando pelo lado e não por baixo, de forma a evitar post-its de saia levantada Monroe sobre a grade do metro style.